sábado, 16 de marzo de 2013

O eco

Eramos a pequena fogueira e eu.
Sempre repudiei a ideia de guardar lembranças materiais do passado, apoiava—me na teoria de que esse hábito impediria o melhor aproveitamento do futuro. No entanto, aquela lata pitoresca continuava na minha estante superlotada de lembranças, na forma de cartas, do passado. Paradoxalmente à minha ideologia, não conseguia de nenhuma maneira apagar da história seu conteúdo. Em consequência dessa contradição, evitei por muito tempo refletir sobre o motivo, provavelmente por medo. Hoje não consegui. Após tentar verificar todos os possíveis motivos, através de intensiva reflexão e meditação cheguei a conclusão que o pensamento inicial estava correto. Decidi me livrar dessas correntes. Foi muito bom ler novamente as palavras daquelas pessoas, seus contos, os momentos. Melhor ainda foi ver as chamas que, dançando, envolviam o emaranhado de papéis. A libertação.

lunes, 28 de enero de 2013

Clube do eu

Quando a porta está trancada você me toma de assalto como um covarde se aproveitando da minha solidão. Dentro do meu cérebro você introduz suas ideias perversas e me torna um outro homem, sempre injetando seu veneno delicioso que me faz aceitar tudo sem questionamentos e resistência. Dessa maneira, você contamina meus atos, destrói meus relacionamentos com todos que eu amo. Seu sadismo é incrível, baixo, sujo. A troco de quê? Não posso revelar muita coisa, pois reconheço sua perspicácia e força, entretanto eu irei te encontrar, de alguma forma, e vou te matar!

lunes, 14 de enero de 2013

Lar amargo lar

No ano de 2009 realizei minha maior contribuição para a geografia no artigo "Ceilândia-DF: Nova centralidade na metrópole de Brasília", em parceria com a professora Laís Pickler. Nesse trabalho identificamos os maus tratos da cidade com os seus habitantes. Apesar desse fato não ser uma novidade para ninguém, aprofundamos a análise e chegamos a uma conclusão ainda mais assustadora, sobretudo, no que se refere às comunidades mais pobres - base de toda a minha luta profissional. Acompanhamos diariamente as lutas das comunidades para melhorar e desenvolver a sua localidade para que possam ter acesso aos direitos fundamentais de forma mais digna. Logo, os administradores públicos realizam obras de saneamento, urbanizam as ruas, fazem parques para lazer e esses problemas parecem se dirigir para uma solução. Parecem. Essa típica situação é o início de um dos maiores problemas dessas populações. Quando uma localidade é desenvolvida, automaticamente é domada pelo mercado imobiliário e o custo de vida aumenta (IPTU, especulação imobiliária, taxas de água/esgoto/energia mais caras). Esse processo gera a expulsão das comunidades mais pobres por não conseguirem mais viver naquela localidade ou persuadidas a sair pela valorização do imóvel, sendo substituídas por uma população com maior capacidade de pagar para viver naquele local. Portanto, a comunidade que lutou pelo seu desenvolvimento é expulsa da sua localidade em razão do seu próprio desenvolvimento, tendo que se dirigir para lugares onde a estrutura é semelhante àquela encontrada na origem, antes das transformações. Voltando a estaca zero, em um círculo vicioso que é muito complexo de ser observado. Finalmente, a mera instalação de infraestrutura não é suficiente para resolver os problemas sociais de determinada região. Para enfrentar esses problemas deve-se ajustar o desenvolvimento à realidade da comunidade local, em um processo conhecido atualmente como sustentável. O que é apresentado nas propagandas dos governos é muito diferente da realidade.